Em 2007, a energia nuclear representava cerca de 30% do total da energia eléctrica fornecida na Europa (World Energy Council, 2007). É um valor expressivo, mas que não faz com que o tema deixe de ser polémico. Desde Chernobyl em 1986, que as potências nucleares Europeias se comprometeram extinguir (ou a ir extinguindo) a sua produção nuclear.
Em Portugal, sobretudo devido à grande dependência energética externa, muito se tem falado de uma eventual aposta no nuclear.
Um dos grandes argumentos dos defensores da energia nuclear em Portugal é a existência de vastos recursos de urânio em território nacional, o que contribuiria em grande escala para a tão almejada independência energética, mas segundo os dados disponíveis isto não totalmente verdade (a durabilidade deste recurso varia entre os 15 e os 60 anos ao actual ritmo de exploração, nas diversas fontes consultadas). Quer-me parecer que não é de bom senso alocar os nossos esforços para uma solução supostamente fácil que recorre a um recurso perene, tal como aconteceu no passado.
Uma das grandes limitações da energia nuclear é que esta só serve para produzir energia eléctrica, mas há que constatar outros dados importantes:
- a energia eléctrica representa apenas cerca de 20 % do consumo energético em Portugal;
- a produção de energia eléctrica a partir de petróleo é marginal no nosso país;
- as centrais nucleares não permitem variações de carga, logo, para compensar as oscilações diárias do consumo teremos de recorrer a barragens de acumulação, eólica e centrais a gás.
Podemos inferir que não precisamos de novos meios para produzir electricidade, mas eventualmente, outras formas de energia como, por exemplo, calor. As energias térmica e eléctrica podem ser obtidas em conjunto optando por soluções de cogeração, uma medida de optimização de sistemas, já há muito conhecida, que visa a eficiência energética.
É essencial compreender o quão falacioso é o argumento pró-nuclear de emissões de GEE nulas para esta tecnologia. As análises deste tipo reflectem, em muito, os cenários considerados por quem desenvolve o estudo, ou seja, das fronteiras que são definidas para o sistema. Isto é, se considerarmos o urânio à entrada do reactor nuclear, as emissões serão relativamente baixas, no entanto, antes da utilização de urânio num reactor nuclear este tem de ser extraído e enriquecido. Numa perspectiva craddle to grave (tradução literal: do berço até à cova), todo o ciclo do urânio se traduz em fortes agressões ambientais e grandes consumos de energia, e consequentemente, gera CO2. A título de exemplo, um reactor nuclear com a potência nominal de 1GW(e) consome por ano cerca de 200 toneladas de urânio natural, sendo os resíduos produzidos para obter o combustível nuclear semelhantes aos de uma central a carvão da mesma potência (MIT, The Future of Nuclear Power , ISBN 0-615-12420-8, 2003).
Mas o problema mais incómodo da energia nuclear são os resíduos radioactivos gerados, que apesar das promessas vãs e dos grandes investimentos em investigação (sobretudo em França) desde os anos 70, ainda hoje não têm um local de deposição definitivo.
O estudo “Eole ou Pluton?” levado a cabo pela DETENTE, que compara as energias eólica e nuclear, traz ainda um acréscimo de informação interessante do ponto de vista económico e social, pois a prazo o impacto positivo no emprego da eólica seria superior ao da nuclear em 5 vezes.
Em suma, o principal problema energético em Portugal prende-se com o modo ineficiente com que utilizamos a nossa energia, felizmente, a consciência para este problema foi desperta. É, também, uma ilusão pensar que a competitividade da nossa economia se resolve com energia (eléctrica) mais barata. Mais do que mudanças de fundo nas formas de produção de energia necessitamos de alterações profundas na cultura económica, tecnológica e empresarial, que julgo serem preconizadas na clara e inequívoca política energética definida pelo Governo. A legislação para eficiência energética em edifícios (os edifícios utilizam 59% de toda electricidade consumida em Portugal), na indústria e a posta nas energias renováveis são factores essenciais de promoção da nossa sustentabilidade no plano energético e são medidas estruturantes e concretas como estas que nos continuarão nesse sentido.
Artigo de opinião de Ricardo Antunes - JS Entroncamento
Em Portugal, sobretudo devido à grande dependência energética externa, muito se tem falado de uma eventual aposta no nuclear.
Um dos grandes argumentos dos defensores da energia nuclear em Portugal é a existência de vastos recursos de urânio em território nacional, o que contribuiria em grande escala para a tão almejada independência energética, mas segundo os dados disponíveis isto não totalmente verdade (a durabilidade deste recurso varia entre os 15 e os 60 anos ao actual ritmo de exploração, nas diversas fontes consultadas). Quer-me parecer que não é de bom senso alocar os nossos esforços para uma solução supostamente fácil que recorre a um recurso perene, tal como aconteceu no passado.
Uma das grandes limitações da energia nuclear é que esta só serve para produzir energia eléctrica, mas há que constatar outros dados importantes:
- a energia eléctrica representa apenas cerca de 20 % do consumo energético em Portugal;
- a produção de energia eléctrica a partir de petróleo é marginal no nosso país;
- as centrais nucleares não permitem variações de carga, logo, para compensar as oscilações diárias do consumo teremos de recorrer a barragens de acumulação, eólica e centrais a gás.
Podemos inferir que não precisamos de novos meios para produzir electricidade, mas eventualmente, outras formas de energia como, por exemplo, calor. As energias térmica e eléctrica podem ser obtidas em conjunto optando por soluções de cogeração, uma medida de optimização de sistemas, já há muito conhecida, que visa a eficiência energética.
É essencial compreender o quão falacioso é o argumento pró-nuclear de emissões de GEE nulas para esta tecnologia. As análises deste tipo reflectem, em muito, os cenários considerados por quem desenvolve o estudo, ou seja, das fronteiras que são definidas para o sistema. Isto é, se considerarmos o urânio à entrada do reactor nuclear, as emissões serão relativamente baixas, no entanto, antes da utilização de urânio num reactor nuclear este tem de ser extraído e enriquecido. Numa perspectiva craddle to grave (tradução literal: do berço até à cova), todo o ciclo do urânio se traduz em fortes agressões ambientais e grandes consumos de energia, e consequentemente, gera CO2. A título de exemplo, um reactor nuclear com a potência nominal de 1GW(e) consome por ano cerca de 200 toneladas de urânio natural, sendo os resíduos produzidos para obter o combustível nuclear semelhantes aos de uma central a carvão da mesma potência (MIT, The Future of Nuclear Power , ISBN 0-615-12420-8, 2003).
Mas o problema mais incómodo da energia nuclear são os resíduos radioactivos gerados, que apesar das promessas vãs e dos grandes investimentos em investigação (sobretudo em França) desde os anos 70, ainda hoje não têm um local de deposição definitivo.
O estudo “Eole ou Pluton?” levado a cabo pela DETENTE, que compara as energias eólica e nuclear, traz ainda um acréscimo de informação interessante do ponto de vista económico e social, pois a prazo o impacto positivo no emprego da eólica seria superior ao da nuclear em 5 vezes.
Em suma, o principal problema energético em Portugal prende-se com o modo ineficiente com que utilizamos a nossa energia, felizmente, a consciência para este problema foi desperta. É, também, uma ilusão pensar que a competitividade da nossa economia se resolve com energia (eléctrica) mais barata. Mais do que mudanças de fundo nas formas de produção de energia necessitamos de alterações profundas na cultura económica, tecnológica e empresarial, que julgo serem preconizadas na clara e inequívoca política energética definida pelo Governo. A legislação para eficiência energética em edifícios (os edifícios utilizam 59% de toda electricidade consumida em Portugal), na indústria e a posta nas energias renováveis são factores essenciais de promoção da nossa sustentabilidade no plano energético e são medidas estruturantes e concretas como estas que nos continuarão nesse sentido.
Artigo de opinião de Ricardo Antunes - JS Entroncamento
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