04/02/11

Os Jovens e a Agricultura

A Agricultura é habitualmente colocada no campo dos assuntos que pouco dizem aos jovens. Eu próprio admito que até encontrar enquanto Presidente da JS Distrital um grupo de Jovens ligados ao sector primário e que o queriam discutir e debater, pouco tinha reflectido sobre o tema. Mas o que me faz hoje escrever um artigo sobre o tema agricultura?

Em épocas de crise económica a questão alimentar e sua sustentabilidade ganham uma importância vital. Ao longo das principais crises económicas e financeiras da História, a carência de bens alimentares e a especulação com os mesmos é um problema central. Dessa forma importa aos países (e Portugal não é excepção) garantir uma boa produção de bens do sector primário, mesmo que a auto-suficiência seja uma utopia que a História desmontou diversas vezes. Importa por isso aumentar as exportações e diminuir as importações. A evolução positiva da Balança Comercial de Bens Primários, só pode ser analisada como um dado extremamente positivo.

A Política Agrícola Comum (PAC) foi criada no contexto de uma Europa vinda da 2º Guerra Mundial e que precisava de garantir que as fomes do pré e pós guerra não voltariam a existir. Cumprindo esse primeiro objectivo, a PAC acabou por entrar em caminhos mais “nebulosos” com o crescimento da construção europeia. Portugal foi uma das vítimas nos anos 80-90. Os governos do PSD liderados pelo actual Presidente, Professor Cavaco Silva desmantelaram autenticamente parte do sector produtivo primário, não mostrando o governo de então a força necessária para impor na Europa as nossas diferenças. Foi a época de “ouro” do destruir de fundos comunitários, do pagar para não produzir e muitos “maus” aproveitamentos que todos infelizmente conhecemos. A incapacidade para modernizar o sector e de afirmação europeia custariam muito caro ao sector, que apenas nos governos do Eng. António Guterres, nomeadamente com o avançar do regadio com o Alqueva voltou a estar no centro das preocupações políticas.

Erradamente é incutido aos jovens desde crianças (muitas vezes pela própria escola) que um país desenvolvido é um país com pouco peso do sector primário a nível demográfico e económico, colocando o mesmo sector com estigmas e estereótipos difíceis de retirar. Do ponto de vista económico e político não podia estar em mais desacordo. É certo que a maioria dos países desenvolvidos têm um peso agrícola relativo nem sempre muito forte, mas certo é que o mesmo sector primário é um motor de desenvolvimento e crescimento, representando mesmo em Portugal uma fatia substancial do Produto Interno Bruto (PIB), e a título meramente exemplificativo podemos referir que só as florestas e a sua fileira representam cerca de 3% do PIB Português.

Desta forma é urgente mudar mentalidades. Um país é o conjunto dos seus sectores e os novos desafios ambientais e da segurança alimentar apenas colocam novos desafios à Política Agrícola de cada país. A Europa a 27 é igualmente uma oportunidade e um risco, sendo fulcral o debate existente para a construção de uma nova PAC. Em relação aos jovens é preciso destruir preconceitos. Muitos são os jovens a estudar e a investir nestas áreas. Ainda recentemente num debate promovido pela JS Ribatejo foram às dezenas os jovens que vieram discutir o tema no concelho da Chamusca. Muitas vezes o que falta é informação e coragem de destruir dogmas e mitos. Os jovens estão preparados para essa mudança social. E a sociedade estará?

Hugo Costa

Fonte: Jornal O Templário

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