21/08/12

Opinião


Colocar as questões ambientais no centro da discussão política é uma marca de esquerda. Se há algumas décadas este era um tema secundarizado, por uma análise económica tradicional que não abordava convenientemente a relação existente entre o sistema económico e o ambiente, considerando aceitável a agressão ambiental em prol de um “bem maior”, a discussão do conceito de sustentabilidade conduziu a uma progressiva alteração e interiorização de comportamentos. E hoje, num contexto de crise, merece, ainda mais, a atenção de todos nós.

Segundo o relatório Brundtland (1987), desenvolvimento sustentável “…é aquele que garante as necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas”. Dar relevo a este princípio nas ações governativas, conduz, não só, à consolidação de um princípio de solidariedade intergeracional, mas também, à promoção da eficiência na utilização dos recursos. A escassez de recursos, sobretudo os naturais, terá de nos conduzir a um novo estágio, em que importará definir estratégias que minimizem as consequências desta escassez e, simultaneamente, otimizar a utilização dos mesmos.

Ninguém pode negar as marcas socialistas neste trilho. A título de exemplo, a erradicação de lixeiras em 1999, durante o governo de António Guterres e, mais recentemente, a afirmação do nosso país no cluster das energias renováveis, os planos estratégicos visando a promoção da eficiência energética.

E é por este último aspeto que passará o futuro. Mergulhados numa profunda crise internacional e com um governo que se limita a replicar austeridade conduzindo o país por tortuosos caminhos sem perspectivas de chegada a qualquer destino, pugnar pela eficiência deverá constar, obrigatoriamente, numa agenda para reerguer o país. 

Na área dos resíduos, a JS Ribatejo defendo devemos fomentar a sua reutilização e reciclagem, estendendo o seu ciclo de vida e mais-valias económicas, antes de os devolver em condições adequadas ao meio natural. Recuperando, inclusivamente, resíduos já depositados em aterro passíveis de valorização e reinclusão nos processos produtivos, favorecendo o aproveitamento energético em cascata. É de extrema importância garantir um mercado organizado de resíduos de modo a consolidar a valorização dos resíduos, com vantagens para os agentes económicos, bem como estimular o aproveitamento de resíduos específicos com elevado potencial de valorização. Entre 2005 e 2009, a produção de resíduos sólidos urbanos e equiparados aumentou cerca de 16% (Agência Portuguesa do Ambiente, 2010), embora se mantenha uma tendência de subida na parcela sujeita a valorização, ainda existe um grande potencial de melhoria. A abordagem deverá ser integrada, alertando as estruturas locais para a responsabilidade que lhes está inerente, envolvendo-as e suportando-as de forma a garantir que a gestão de resíduos funciona adequadamente de uma perspectiva holística.

No campo da energia, manter um desenvolvimento sustentável da aposta nas energias renováveis, valorizando os recursos endógenos, tem-se revelado uma aposta ganha ao longo destes últimos anos. Embora algumas das medidas do Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética (PNAEE), tenham desde já sido abandonadas por este governo, numa abordagem de corte cego e imediato, nas quatro áreas estratégicas, transportes, residencial e serviços, indústria e estado, os relatórios de execução de 2009 e 2010 (o de 2011 não está disponível (?)) revelam ganhos de eficiência e poupanças efetivas que não podem ser ignoradas.

O silêncio dos ministros que têm responsabilidades nestas áreas, em relação a qualquer plano estratégico para áreas como a energia (fará sentido manter o PNAEE anulando vários vetores?) e os resíduos (o único documento estratégico nacional é de Maio de 2011, do governo socialista e mantém a designação de “projecto”, embora corresponda ao período 2011-2020) é ensurdecedor. Gerir implica a prossecução da eficiência na afectação de recursos, e para tal, é necessário definir estratégias e objectivos.

A JS Ribatejo exige o fim da inação. 

Ricardo Antunes 
 Coordenador da JS Entroncamento
Membro do Secretariado da JS Ribatejo

Sem comentários: