Exclusão
Política
A exclusão política é, hoje, uma espécie de doença que vai
corroendo a democracia lentamente. O facto de que existam pessoas cujas
opiniões sejam desvalorizadas, menosprezadas ou ignoradas invalida, desde já, o
funcionamento pleno da democracia. Mas o mais grave é que essa exclusão se dá a
vários níveis.
Ao nível do cidadão que, sendo vítima da burocracia e da
complexidade da participação política, nas suas formas mais convencionais,
limita-se, muitas vezes, a votar. Mas a participação política é muito mais que
isso. Significa, em primeiro lugar, compreender e decidir quais as opções que
mais favorecem os seus interesses. Com a sofisticação comunicacional quer dos
discursos quer dos comunicados, propostas de lei ou funcionamento
institucional, alguma parte dos cidadãos sente essa complexidade como uma
barreira à participação política. Ficam reféns, então, de comentadores políticos
que vão à televisão esmiuçar as comunicações oriundas da atividade política de
acordo com os seus próprios interesses pessoais.
Existe, depois, a questão do tempo e dinheiro. Estar
informado requer tempo e requer dinheiro. Com a degradação das condições de
vida, muitas pessoas vêem-se obrigadas a trabalhar mais horas e a gerir melhor
o dinheiro. Ter internet, comprar o jornal, ver televisão…requer uma combinação
entre disponibilidade de tempo para estar tranquilamente a absorver e a
interpretar a informação e condições financeiras para suportar a manutenção do
hábito de estar informado. O país mergulha numa recessão económica mas esse
facto arrasta também uma recessão social, política e moral. Quem não tem tempo
e dinheiro para se informar acaba por entrar numa inercia política e
desinteresse que o leva à exclusão.
Outro nível de exclusão política é o que assistimos hoje, na
zona Euro. Parece-me evidente que todos os pilares da construção europeia estão
suspensos. A solidariedade, a união e a igualdade ficam, em tempo de crise, à
espera de melhores dias. Este é um ensinamento importante para nos prepararmos
para futuras crises. A falta de coragem e discernimento conduziram os medíocres
políticos europeus a uma situação de claro aproveitamento dos países que não
estão em má situação económica e financeira. A liderar, a Alemanha. É a
Alemanha a chave para a crise? Eu creio que sim, para o bem e para o mal. Na
minha opinião, a sra. Merkel sabe perfeitamente que esta situação evidencia as
claras diferenças entre o seu país e todos os outros da zona Euro. Isso
reflete-se nos mercados, que compram títulos de dívida alemães com níveis de
juros negativos, ou seja, pagam para que a Alemanha se financie. E é nesta
situação que a Alemanha ganha em manter as coisas como estão.
Telmo Nunes
Militante da JS/Cartaxo
Licenciado em Ciências da Comunicação, Mestrando em Ciência Política
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